Como me tornei Centauro sem saber, e reinventei minha arte com IA
E se a IA não fosse ameaça nem ferramenta, mas parceira de criação? Neste artigo, conto como me transformei, sem perceber, em uma equipe centauro: metade presença humana, metade potência algorítmica. Entre poesia, improviso e tecnologia, narro a evolução de minha arte no palco com inteligência artificial, revelo bastidores inéditos e te convido a refletir: e se você também já for centauro, mas ainda não souber? Um manifesto poético para quem quer atravessar a era digital sem perder a própria alma.
MENTALIDADESERENDIPIDADEMINHA HISTÓRIAIAS
Lucas Veríssimo
7/16/20254 min ler


1. Quando percebi que estava criando algo que ninguém esperava
No início de 2025, eu fiz uma música sobre uma palestra... durante a própria palestra.
Ao final, subi ao palco, soltei o som, e o CEO dançou comigo.
A plateia pirou.
Mas ninguém ali sabia o que, na verdade, estava acontecendo.
Eu também não sabia.
Só meses depois a ficha caiu. Quem me ajudou a nomear o que eu já fazia, sem saber que fazia, foi a Lu Bazanella, pesquisadora e futurista brilhante, que me apresentou o conceito de Equipe Centauro.
E aquilo me atravessou de um jeito profundo.
Porque sim, eu era isso. Eu me tornei isso.
Um performer centauro.
2. O centauro não é um conceito técnico. É um estado criativo.
O termo “centauro” vem do xadrez.
Foi criado por Garry Kasparov, após perder para o supercomputador Deep Blue em 1997.
Em vez de rejeitar a derrota, ele fez uma pergunta:
“E se humanos e máquinas jogassem juntos, em vez de se enfrentarem?”
A resposta foi surpreendente.
Surgiu então o conceito de “inteligência centauro”: uma união simbiótica entre a intuição humana e a capacidade de cálculo das máquinas.
Mais tarde, isso evoluiu para a ideia de equipes centauro: times híbridos, onde humanos e IAs colaboram com papéis bem definidos. O humano decide o que importa. A IA ajuda a mostrar como chegar lá mais rápido, melhor, mais fundo.
Mas ser centauro não é usar IA pra gerar conteúdo.
É usar IA pra expandir consciência.
É colaborar, iterar, ajustar, afinar.
É ser um compositor simbólico em tempo real, com um exoesqueleto digital criativo.
E foi isso que, sem perceber, eu vinha fazendo.
3. O Caminho: De apresentador a compositor híbrido
Eu sou apresentador de eventos há mais de uma década.
Mas, como costumo dizer, não sou mestre de cerimônia. Sou mestre sem cerimônia.
Transformo o palco em presença.
Uso elementos artísticos, sonoros e poéticos pra dar vida a experiências que, em geral, seriam apenas corporativas.
Tenho comigo um sonoplasta, meu irmão e parceiro de palco, que solta trilhas, risadas, vinhetas, efeitos. Tudo ao vivo. Tudo no improviso (treinado).
Mas há seis anos algo novo começou a brotar:
Passei a compor poemas ao final das palestras.
Anotava frases marcantes ditas ali mesmo, durante a fala. Depois, rimava com elas, construía sentido, criava impacto emocional na surpresa.
Era minha forma de entregar um presente simbólico à audiência e ao palestrante.
Mas tinha um limite:
Só conseguia criar bons poemas com palestras longas, de 45 minutos ou mais.
4. A Chegada da IA: GPT entra em cena
No início de 2023, o GPT chegou pra mim como uma espécie de aprendiz literário.
Comecei a alimentá-lo com frases capturadas das palestras e o treinava com meu estilo poético. Pedia:
“Crie um poema com essas frases reais, nesse tom, com esse ritmo, com esse impacto.”
De repente, passei a conseguir criar poemas incríveis até em palestras de 20 minutos.
Rápido. Com punch. Com verdade.
O GPT virou meu parceiro de cena.
Eu dava as frases. Ele me devolvia possibilidades.
Eu lapidava. Ele aprendia.
E juntos, esculpíamos presença com palavras.
5. O evento sem internet (e a revelação)
No final de 2023, fui apresentar um evento em um lugar sem Wi-Fi.
Não tinha como usar IA. Voltei ao modo raiz: papel, caneta, suor e sinapse.
Mas aí aconteceu algo inesperado.
O poema que fiz, sozinho, ficou melhor do que quase tudo que eu já tinha feito.
Ali, percebi algo que me deixou boquiaberto:
A IA não havia me deixado preguiçoso. Ela havia me deixado mais rápido. Mais preciso. Mais criativo.
Ao colaborar com ela, meu repertório se ampliou.
Fui exposto a rimas, estilos, estruturas poéticas que eu desconhecia.
O que antes era esforço, agora era fluidez.
O que diziam por aí, que IA atrofiaria nossa capacidade criativa, não se confirmou.
No meu caso, ela musculou meu cérebro lírico.
6. A Música entra em cena: Suno AI e o boom bap centaurizado
Em 2024, conheci o Suno AI, uma ferramenta que cria músicas completas em minutos.
Passei a transformar os poemas em rap.
Especificava o estilo (“boom bap”) e subia a letra no Suno.
Em cinco minutos eu tinha uma música pronta, criada ali, durante o evento, sobre a palestra que ainda ressoava na sala.
Enviava pro meu sonoplasta com uma instrução simples:
“Solta essa quando eu me despedir do palestrante.”
A plateia explodia.
7. O case Bazanella: da emoção à esperança
Recentemente, no encontro de inovação do Sebrae com líderes dos 26 estados + DF, a Lu Bazanella deu uma palestra potente sobre o futuro.
Criei uma música sobre a fala dela. E algo diferente aconteceu:
Ela se emocionou.
Compartilhou com a família.
Disse que ouvia a música repetidamente.
E afirmou: “Essa música me deu esperança.”
Porque, segundo ela, tem visto muita coisa apocalíptica sobre IA. Mas aquilo ali foi arte. Foi afeto. Foi poesia nascida da tecnologia.
Mais do que impacto: presença restaurada.
8. A Supercereja: quando a máquina falha, o humano canta
Havia um trecho da letra que ela não curtiu. Pediu ajustes.
Refiz. Não ficou bom.
Resolvi baixar o beat e cantar com minha própria voz, em casa mesmo sem grandes produções.
Ela se emocionou de novo. Disse: “Agora ficou perfeito.”
Fiquei tão empolgado com o retorno dela que resolvi gravar em estúdio. Entreguei.
Nesse momento, o centauro se completou:
Máquina, humano, sensibilidade, ajuste, entrega.
A tecnologia preparou o caminho.
Mas foi a minha voz que terminou a travessia.
9. Conclusão: O centauro não é um robô com alma. É um humano com braço ampliado.
Hoje eu entendo o que me tornei.
Não um artista que usa IA.
Mas um performer centauro:
Com intuição de poeta.
Com braço de código.
Com sensibilidade humana e apoio algorítmico.
Com escuta emocional e resposta em ritmo real.
O GPT não escreve por mim.
O Suno não canta por mim.
Eles ampliam o que eu sou.
💎 Pósfácio: A dança com o CEO e a música que virou símbolo
No palco com o CEO da Blip, criei a música ao vivo.
Ele dançou. A plateia delirou.
Um dos temas da palestra? O impacto da IA na sociedade.
A música? Criada por IA. Sobre a própria palestra.
O gesto? Uma síntese simbólica perfeita.
E foi nesse dia que percebi:
a performance centauro não é o futuro da arte. É o presente do humano.
Se você também está explorando esse lugar entre algoritmo e afeto,
entre prompt e poesia,
entre GPT e GENTE... Talvez você também já seja centauro.
Só ainda não sabia disso.